dezembro 22, 2010

Jus!


Justiça, santa ou diabólica ronda vida... resistente, forte, ingênua, cruel. Efetiva sonhos lateja carnes, movimenta corpos. Carnavalesca existência... dilaceramento, cansaço e volúpia... espírito permeado... novos prazeres magnéticos.

dezembro 15, 2010

Jack


"O rosto dele era uma máscara ossuda de tristeza, mas seus olhos brilhavam como os dos velhos sábios risonhos da China, por cima daquele cavanhaquezinho, para amenizar a aparência rude de seu rosto tão bonito".

(Jack Kerouac - Os Vagabundos Iluminados)

dezembro 14, 2010

Um programa bacana!

inSOLação


Obrar o lugar, contato com objetos, pedras, areia, cimento, brita, canos, poste, telas, espera plástica, buracos, mangueira, SOL, caixa de água, tábuas, tijolos, possíveis alicerces, suor, pele frita, olhos ardentes, poeira, SOL, quarenta graus, em um paralelo que parece deslocado pela vertigem, corpos quase nús, homens formigas sorridentes, escaldados, podam, juntam, misturam, capinam, entre carrinhos, fios e vigas. Eu no meio e o SOL, pulando de galho em galho, litros de água mineral, protetor solar vencido pelas horas de exposição, fritada humana, crocante epitelial...

novembro 16, 2010

DEScomPASSO


Tic-Tac
passos
bico de pena
giros compassos
pulso
tinta nanquim
veias com
repouso
beija-flor
círculos sem
fim
passo!
arcos

novembro 13, 2010

Pulsantes dias


Co-crio
nova vida
águas do espírito
sedes absurdas
pulsações dilacerantes
renovando peles
fecundos mares
paixões navegantes
diárias vertigens
fruta mordida
olho no horizonte

outubro 19, 2010

Sublinhados de grafite


"toda vida é uma missão secreta".

"só posso alcançar a despersonalidade da mudez se eu antes tiver construído toda uma voz".

"Só então minha natureza é aceita, aceita com seu suplício espantado, onde a dor não é alguma coisa que nos acontece, mas o que somos. E é aceita a nossa condição como a única possível, já que ela é o que existe, e não outra. E já que vivê-la é a nossa paixão. A condição humana é a paixão de Cristo".

(Clarice Lispector - A paixão segundo G.H.)

Do imbecil diário


Em volta da mesa para uma reunião formal, basta ceder mais espaço-tempo para que caia o véu do encobrimento. O ar pesa, poeira ganha densidade entre papéis farelados de torpes manuseios. A "santa" surge, "reta", "pura", kantiana em seus universais legais. Forma tentacular que com dedos ágeis puxam brasas para seu assado.

Retórica mínima, ultrapassada pelo imbecil diário de uma vidinha sem graça. Dejetos pululam entre "pensares" categóricos que buscam um fim proveitoso. Uma pequena arquitetura pobre de um jogo de damas: "preciso comer tuas pedras!!". "Se possível fico com o tabuleiro"...

Papiza de venerações próprias e um mínimo clero, dada a pequenos desatinos quando não pode conter sua maldade. Espuma pelos cantos da boca, bílis fabricada em um corpo deformado pela falta de paixão.

Dores dilaceram este espírito que se trai na vagância dos dias. Mais uma ilusão de vitória recheada de sacanagem, do que não se ousa dizer nem admitir. Ações escondidas, veladas, pintadas com horríveis tintas deformantes de um rosto que aparece mas não é seu. E acredita piamante que a vida seja essa mixórdia que construiu para si, onde o coro sem olhos deve dizer amém!

outubro 06, 2010

Teresa Filósofa



Para servir à história do Padre Dirrag e da Senhorita Eradice
"Porque temer escrever verdades úteis ao bem da sociedade? Pois bem, meu caro benfeitor! Não vou mais resisitir! Escrevamos! Minha ingenuidade, para as pessoas que pensam, passará por um estílo depurado, e pouco temo os tolos. Não, vossa terna Teresa jamais vos responderá por uma recusa, vereis todos os recôndidos do seu coração desde a mais tenra infância, a sua alma vai se revelar inteiramente nos detalhes das pequenas aventuras que, sem que percebesse, a conduziram, passo a passo, ao auge da volúpia".

(Teresa Filósofa - Anônimo do Século XVIII)

setembro 29, 2010

Arcanjo Miguel


Flameja teu azul

luz-a tua espada

Entre


Entre lugares com todo frenesi de mudanças desejantes...

setembro 09, 2010

Instante


O instante de olhar triste da menina, fez meu espírito retinoso marear... silenciosos rumores confessos!

setembro 01, 2010

Lúcida em excesso



“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém”.

(Texto extraído do livro Aprendendo a viver, Clarice Lispector. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2004)

agosto 30, 2010

O mundo como sintoma...


"Não se escreve com as próprias neuroses. A neurose, a psicose, não são passagens de vida, mas estados em que se cai quando o processo é interrompido, impedido, colmatado. A doença não é um processo, mas parada do processo, como no "caso Nietzsche". Por isso o escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico, médico de si próprio e do mundo. O mundo é o conjunto dos sintomas cuja doença se confunde com o homem".


(Gilles Deleuze - Crítica e Clínica)

agosto 28, 2010

Vivaldi


A primavera se avizinha, acorda terra num mar de papoulas, rubro sangue pulsante...

agosto 27, 2010

Insensíveis biólogos!


Da falta de respeito que surpreende


Pela liberdade de encalhar para morrer


Visibilidade midiática insensível




Venceu a resistência poderosa


baleiando esvaziou o resto de vida


no lugar primeiro


onde havia escolhido partir

agosto 13, 2010

O pastor e a irmã desgarrada




As representações que cada ser humano constrói coloca em campo, principalmente nas relações interpessoais, lutadores vorazes prontos para impor suas verdades universais. Há muitos julgadores de plantão, almas banhadas de um ressentimento sem fim, discursos prontos, ditando leis paralíticas, “representoses” baratas, diante de um mundo plural e intenso.

E a “briga” impõe seus traçados, muitas vezes em lugares alegres, descontraídos, de conversa solta, onde a figura casmurra faz morada. Quase sempre, sem ser convidado, chega de surpresa e destoa pelo tom pastel de suas vestes fechadas, com destaque para a camisa social abotoada até o último botão, na altura do gogó. Pode ser considerado o triste observador, olhinhos de rato, retinas gelatinosas, mente rica em opiniões, pastor. Desconhecem que o segredo das palavras não está do lado daquele que escuta, não leu Nietzsche, apenas os dogmas bíblicos.

Aliás, tem os mandamentos sempre à mão, aquela com fecho que tem como chaveiro um mini-testamento a balançar. Solução estratégica para caso de emergência, onde não seja possível o acesso rápido, a grande bíblia que está com a capinha preta.

As palavras têm atividade, toda uma genealogia, que pode desmascarar preconceitos e ilusões quando é possível descobrir sua força e o que se exprime nela. Mas os equívocos ocorrem nos adoentados da alma, que se envenenam a si mesmos. Não sabem o que é um filosofar leve. Pesados, arrastam-se, buscando poder, reconhecimento; escravos, não criam novos valores nem relações, somente reproduzem os velhos.

Pude acompanhar recentemente, numa reunião entre amigos, uma cena que me chamou a atenção e causou reações contrárias em função de uma palavra. Foi em um churrasco de fim de semana. Que após comes, bebes, cantorias e sessão de piadas todos já estavam a se despedir. Foi quando uma amiga nossa pediu para levar um pouco de carne e salsichão para fazer um “rebuceteio” em casa – um prato preparado com lingüiça, alho e cebola fritos, arroz, feijão, com outras sobras em uma frigideira. O mesmo que “mexido”.

A criatura essa casmurra que tentei descrever acima, se levantou de onde estava, abriu o porta-bíblia e colocou na mão desta pessoa um convite de sua igreja. Para um culto, pois diante de tudo o que havia assistido e mais o rebuceteio final, ele achou profeticamente necessário encaminhá-la para a salvação. Pobre irmã desgarrada!

Minha amiga nobremente agradeceu, e sugeriu que a dita igreja no centro da Capital deveria fazer um rebuceteio coletivo entre pastores, crentes, empresários e distribuir nas imediações, pois seria uma boa iniciativa. E saiu sorrindo!

O paulínio ser não dramatizou o conceito, escutou, representou de forma equivocada, julgou e condenou, ignorava a aplicação da palavra, da idéia, impôs sua moral do “bom” sobre o “mau”. Forma viciada que ainda triunfa infelizmente em nossa realidade cotidiana. Onde a representação pensa dominar de maneira clara e distinta toda a realidade. Esquecendo-se, porém, dos dinamismos mutantes que operam no obscuro de cada conceito, revelando suas forças e dramática leveza.

agosto 04, 2010

Repente


"Não me encontro onde procuro, mas de repente, quando menos espero".


(Michel de Montaigne)

agosto 02, 2010

Maria Madalena ou Noiva Perdida da psique humana


"A perda do feminino teve um impacto desastroso em nossa cultura. Masculino e feminino estão profundamente feridos neste início do terceiro milênio. As dádivas do feminino não foram aceitas ou apreciadas por completo. Enquanto isso, o masculino, frustado pela incapacidade de harmonizar suas energias com um feminino bem desenvolvido, continua a liderar o mundo empunhando a espada, brandindo armas irresponsavelmente, atacando com violência e destruição.

No mundo antigo, o equilibrio entre as energias opostas era compreendido e respeitado. Mas, no mundo moderno, as atitudes e os atributos masculinos têm dominado. A adoração do poder e da glória do principio/solar está a poucos passos da "adoração do filho", um culto que, com freqüência, produz um homem mimado e imaturo - zangado, frustrado, entediado e, muitas vezes perigoso. O resultado final do princípio feminino desvalorizado não é apenas a poluição ambiental, o hedonismo ou a criminalidade desenfreada. O resultado fundamental é o holocausto".

( Margaret Starbird - Maria Madalena e o Santo Graal - A mulher do vaso de alabastro)

julho 30, 2010

Imaginário!



Resenha [imaginária] para um livro [imaginário] intitulado [imaginariamente]: "O cérebro-espírito na educação"


Vazios Espirituais é o título do novo livro da filósofa e pesquisadora Maria Campos, que saiu recentemente pela Editora NADA. Nesta obra a autora faz uma análise crítica sobre: “mortes existenciais” originadas pelo massivo uso de drogas como Ritalina, impostas aos jovens identificados como portadores de déficit de atenção e hiperatividade. O texto inovador, escrito em forma de metáforas, apresenta um assunto polêmico e faz um alerta a pais, professores e alunos sobre o uso indiscriminado dessas substâncias. Salienta que: “A ‘mansidão’ de um aluno considerado com déficit de atenção, não quer dizer necessariamente que não tenha um poder incrível de pensamento. E que o ‘agitado’ hiperativo não seja inventivo, criativo à sua maneira, mesmo que não suporte mais copiar lições e ficar obrigatoriamente sentado”. Cada caso deve ser considerado para não incorrermos no erro de ceifar vidas, causar sofrimento em nome de uma “verdade” e um “bem” que se supõe estar fazendo em nome da “saúde”. Podemos estar criando uma legião vestida de camisas de força, bonsais humanos, bonitinhos, decorativos, mansinhos, vasos de informações, receitas prontas, o eterno amém do pensar decepado. Respeitar a pluralidade e diferenças de comportamentos é um desafio dos novos tempos, o rebanho da Ritalina de hoje pode gerar o ressentido de amanhã.

julho 29, 2010

Visitas na madrugada


Ó Valquíria serva de Odin! Suspeito que seja tua armadura reluzente que vejo cavalgando nas escuras madrugadas insones.

O que desejas?

Anunciar minha vitória ou chorar minha morte!

Carona!


Na carona eu ia,

vento nos cabelos

Toda estrada

Saboreando sonhos acordados

Mover-se


Há uma dança infinita que embala corpos, uma coreografia de vida, que se diz na perdição do mundo.

julho 20, 2010

Amigos!


Amigos mesmo! Eles sabem que são pois, são cultivados, carinhados, amados... o mais espantoso é os que nunca foram e aguardam sorrateiramente 20 de julho para lançar novamente seu olhar invejoso, gordo, sobre lembranças do que poderia ter sido e não foi, por pura incompetência humana... pensam ter a VERDADE do que é ser amigo, absolutamente, em suas cabecinhas se acham mesmo!

julho 14, 2010

Caderno de notas


Caderno de notas das "Memórias de Adriano" (Marguerite Yourcenar)


"Mergulho no desespero de um escritor que não escreve".


"Um pé na erudição, outro na magia, ou, mais exatamente e sem metáfora, nesta magia simpática que consiste em nos transpotarmos em pensamento ao interior de alguém".


"O feiticeiro que golpeia a si mesmo no momento de evocar as sombras sabe que elas só obedecerão ao seu apelo porque lhe sorvem o sangue. Sabe também, ou deveria saber, que as vozes que lhe falam são mais sábias e mais dignas de atenção do que seus próprios gritos".


Cabeças pensantes


Apesar da gélida manhã de julho, o seminário aqueceu, mostrando o que podem cabeças pensantes.

julho 09, 2010

Visita de mortiça



Quantas vezes não houve a tentação de cortar os pulsos e acabar com tudo. Imaginava-se deitado em seu próprio sangue, um tapete com seu corpo em relevo branco, gélido no meio da sala. Dois dias depois do fato, na quinta, provavelmente a diarista iria encontrá-lo. Mas a tentação não é a ação definitiva, quem muito ameaça quase nunca faz!
Planejara esta cena várias vezes. Sentia que a morte o rondava, mas não sabia ao certo como executar sua passagem para o além: Doses de medicação, mais tequila, afogamento nos penhascos de Torres, asfixia com saco plástico durante a ceia de natal, haraquiri em plena academia de ginástica, secador de cabelo na banheira com pétalas de rosas antes do almoço de domingo e mais uma infinidade de possibilidades.
Andava tão cheio da vida quem nem mais este prazer noturno lhe fazia vibrar. Sentia seu sangue lento nas veias, um torpor, uma vontade de ficar só na horizontal para sempre. Sonhava por vezes, com um ser andrógino, mortiça, espectro obscuro, aroma adocicado que o fazia acordar excitado. Não via a hora de novamente deitar para o encontro. Ficava nu sobre os lençóis esperando pelas lambidas das vestes sedutoras que percorriam o seu corpo, nas tardes e nas longas madrugadas.
Ao acordar novas estratégias suicidas, pois já não queria este plano das carnes e vísceras e sim vagar brumoso, sem dores, pelo espaço sideral. Esperava agora sem presa a arquitetura de um derradeiro acontecimento. Dava gargalhadas sinistras, enquanto brincava de morrer, agora se sentia acompanhado.

julho 01, 2010

Leitura


Considero a leitura um dos atos que deveriam ser fundamentais para a condição humana, temo pelos que não sofrem seus efeitos não se deliciam com esta arte. Falo da leitura não com armazenamento de conhecimento, mas como deleite, paixão... A alegria do livro entre as mãos, hábito adquirido desde a infância, o cheiro gostoso de cada página virada e revirada. Dos novos olhares sobre trechos sublinhados na época da faculdade, das coisas que já não dizem mais nada e da nova dança de signos delirantes que nos fazem tremer, vibrar, criar. Alguém já sentiu essa musicalidade diante de uma obra? -Da coisa dos amantes ali entre quatro paredes, tendo como única testemunha a velha luminária. Das confidências íntimas, dos toques sutis, no mexer de entranhas, do sorriso de canto, da lágrima de até outra hora. Os olhos revirando, buscando nos cantos do quarto, personagens das transas mentais, fluxos de ideias... dos papelotes sobre a cama, pelo chão, anotados na penumbra com lápis, caneta, batom ... Pois é o que sinto até hoje! Leituras: mergulhos, mistérios, desse vivível amor, secretos devaneios, insaciáveis desejos, terror obscuro, onde deslizo meus dedos, olhar penetra curioso sobre signos, dobras de mais uma orelha, aromas, que anunciam nova orgia.

junho 26, 2010

Espiritografia a la Miró


Viver de espiar, espreitar ciclos de intensidades, o adoecimento que resiste à febre, o bater de queixos que se confunde com um riso louco. Vida por vezes famélica, alimentada insana pelos vestígios do dia, por traços letárgicos do que um corpo quer dizer. Fazendo germinar do mais íntimo, brotos que arrastam dedos e mãos, riscos deslizantes que o espírito impõe numa constelação, derramando figuras na superfície disponível de agora, entre gélidas madrugadas.


Há um calor de inconformismo, um ar de liberdade, sonho, vida sem freios, como um cão latindo para a lua. Um impulso, uma força que faz inverter figuras, girar entre carnavais, uma réstia de filosofia, pensamentos, ação, entorpecimento, criação suspensa de qualquer controle.


Não há exatidão, mas um gerar impreciso dos cabeludos pincéis molhados, misturado numa vertigem de cores, gestação de uma obra fecundada, inominada até nascer. Signos que acontecem, pássaros, mulheres, asno, um auto-retrato, o que ri e chora. Vinga, transborda, contrai, transforma-se e pede mais para vir-a-ser arte.


Um espírito que transfigura o mundo com linhas, traços interpenetráveis de lonjuras e desespero do que percebe diante dos olhos. Danação entre duas guerras e uma força regente, nebulosas de gestos, do que deseja resistir, encharcado, aquarelas espontâneas surgem do fundo claro, onde tudo escorre. Cabeleira de seda branca, enorme cabeça, silhueta de fera cavalga uma lágrima em forma de alazão, espargindo orvalho, uma arquitetura de sonhos despejados em estranhas geometrias na noite sem luar.


O desacreditado observa seus velhos sapatos constelados por galáxias, tintas, pingos estelares do que saltou em cores de um absurdo infinito universo, onde calça seus pés. Suas patas e corpo deitado numa enseada, onde mãos tateiam uma vez mais a viscosa tinta. Mas levantam fazendo surgir pintalgada litografia de um espírito comediante, que embora sangre, traça, vivifica em telas, esculturas, amores e dores. Inquieto compositor de experimentações variantes, o solitário que em sua quietude “anti-social” deixou seu berro para que assim ocorra uma nova aurora pulsante, um mosaico que clame El despertar Del dia e acorde o mundo.


Escritura apresentada:

No Seminário Avançado: O método de dramatização na comédia do intelecto: Valéry & Deleuze (Professora: Sandra Mara Corazza)

Vidas do Fora


Ainda estou impregnada de vocês, de vida, excesso de pensamentos. Os livros entre as mãos num devorar de escrituras. A chuva que cai, seus pingos tilintantes fazem passar imagens entre suspiros, um mosaico de gritos, silêncios. Sem escafandro me lanço!

"O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria" (William Blake)

Aos que me tocaram mesmo sem saber, meu abraço e meu carinho.

junho 09, 2010

Borges


Uma oração

Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.


(Jorge Luis Borges)

junho 07, 2010

Gozo


"O prazer do texto é semelhante a esse instante insustentável, impossível, puramente romanesco, que o libertino degusta ao termo de uma maquinação ousada, mandando cortar a corda que o suspende, no momento em que goza".


( Roland Barthes - O prazer do texto)

junho 05, 2010

Movimento


Neste momento ondas batem em algum lugar...

Erdmuthe Krause


Em Ecce Homo - Como Alguém se Torna o que é de Friedrich Nietzsche... Porque sou tão sábio 3 encontramos:

"Mas minha mãe, Franziska Oehler, é de qualquer modo bastante alemã; assim também minha avó paterna, Erdmuthe Krause. Essa última passou toda a sua juventude na velha e boa Weimer, não sem relação com o círculo de Goethe. Seu irmão, o catedrático de teologia Krause, de Königsberg" (...)


Resolvi procurar a criatura, queria uma foto, uma imagem, para verificar alguma sincronicidade com Krause. Então!!!

junho 01, 2010

Cravo!


Cravo dentes, repentes, farelos nutrientes...

maio 20, 2010

Cora


Pula no meu colo

afofa deita

orelhas radar

longos bigodes

tigra sensual

selvagens encantos


Cora rasga meus papéis

morde meus livros

apronta toda hora

some com minhas canetas

corre dá giros

surdez providencial


Cora das bolinhas

dos dengos

dos crocantes

dos fú, fússss

do rock compartilhado

desfile entre amigos


Cora que quase foi

choros de saudade

capturada nos canteiros

das noites em claro

remédios hora-hora

do colete elizabetano

sem direção


Cora adotada na feirinha

das espriguiçadelas belas

das fugas

dos desaforos

companheira

dos telhados


Cora dos chamegos

do ciúme

captadora dos cheiros

selvagem instinto

amada

idolatrada

única


Quando enfim dorme

sonha e extremece

me acorda pede arrego

escolhe o melhor lugar

me espia

segue a viajar

Mia


Nuvem cinza luminosa

beleza sem igual

jeito de santa

faz o que quer

quando quer

como quer


Mia dos olhos melados

dos amassadinhos

das cinco horas pontuais

dos avisos

do amor e da paixão


Mia dos banhos intermináveis

pêlos sedosos, nós todos os dias

das arrancadas quando menos se espera

rasteirinha com visitas

dos bocejos


Mia do leite pela manhã

das escondidelas na cadeira

do xixi fora da caixa

das reflexões gáticas

do sutil inesperado

dos colos ternos


Mia dos passos lentos

instintos profundos

drogada na madrugada de azaléia

sono roncante

sonhos agitados


Mia do miado de rainha

do virus intestinal

do peito de frango com batata

liquidificado

da viagem

do arranha espaldar


Mia donzela, bela, fera

do meu balaio...

estirada no edredon

nas noites frias

no verão não me dá bola

Flanação


















"Pois só cai quem voa
só quem tira os pés do chão".

(Nico Nicolaiewsky)

maio 12, 2010

Pã!


Há garças nos chorões do Dilúvio.

maio 10, 2010

Extenuada


Corpo extenuado
Tendões doloridos
Visão turvada
Chuva que cai
cai
cai!!
Saudade dos jardins
Suspensos
ócio e prazeres...

maio 04, 2010

Visões


Abertura, vão, caminho, acesso, cilada, anexo ecológico, outra dimensão, porta falsa, liberdade, rito de passagem, trecho, cenário, terror, verde paragem, fim, encontrar Alice, incógnita vita, labirinto, prisão, campina, entrada, esconderijo, saída, perdição, antes e depois, natura, casa de Hera...

Loucos-santos-amigos


Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que 'normalidade' é uma ilusão imbecil e estéril.
(CADERNO DE POESIA - by Oscar Wilde)