agosto 30, 2010

O mundo como sintoma...


"Não se escreve com as próprias neuroses. A neurose, a psicose, não são passagens de vida, mas estados em que se cai quando o processo é interrompido, impedido, colmatado. A doença não é um processo, mas parada do processo, como no "caso Nietzsche". Por isso o escritor, enquanto tal, não é doente, mas antes médico, médico de si próprio e do mundo. O mundo é o conjunto dos sintomas cuja doença se confunde com o homem".


(Gilles Deleuze - Crítica e Clínica)

agosto 28, 2010

Vivaldi


A primavera se avizinha, acorda terra num mar de papoulas, rubro sangue pulsante...

agosto 27, 2010

Insensíveis biólogos!


Da falta de respeito que surpreende


Pela liberdade de encalhar para morrer


Visibilidade midiática insensível




Venceu a resistência poderosa


baleiando esvaziou o resto de vida


no lugar primeiro


onde havia escolhido partir

agosto 13, 2010

O pastor e a irmã desgarrada




As representações que cada ser humano constrói coloca em campo, principalmente nas relações interpessoais, lutadores vorazes prontos para impor suas verdades universais. Há muitos julgadores de plantão, almas banhadas de um ressentimento sem fim, discursos prontos, ditando leis paralíticas, “representoses” baratas, diante de um mundo plural e intenso.

E a “briga” impõe seus traçados, muitas vezes em lugares alegres, descontraídos, de conversa solta, onde a figura casmurra faz morada. Quase sempre, sem ser convidado, chega de surpresa e destoa pelo tom pastel de suas vestes fechadas, com destaque para a camisa social abotoada até o último botão, na altura do gogó. Pode ser considerado o triste observador, olhinhos de rato, retinas gelatinosas, mente rica em opiniões, pastor. Desconhecem que o segredo das palavras não está do lado daquele que escuta, não leu Nietzsche, apenas os dogmas bíblicos.

Aliás, tem os mandamentos sempre à mão, aquela com fecho que tem como chaveiro um mini-testamento a balançar. Solução estratégica para caso de emergência, onde não seja possível o acesso rápido, a grande bíblia que está com a capinha preta.

As palavras têm atividade, toda uma genealogia, que pode desmascarar preconceitos e ilusões quando é possível descobrir sua força e o que se exprime nela. Mas os equívocos ocorrem nos adoentados da alma, que se envenenam a si mesmos. Não sabem o que é um filosofar leve. Pesados, arrastam-se, buscando poder, reconhecimento; escravos, não criam novos valores nem relações, somente reproduzem os velhos.

Pude acompanhar recentemente, numa reunião entre amigos, uma cena que me chamou a atenção e causou reações contrárias em função de uma palavra. Foi em um churrasco de fim de semana. Que após comes, bebes, cantorias e sessão de piadas todos já estavam a se despedir. Foi quando uma amiga nossa pediu para levar um pouco de carne e salsichão para fazer um “rebuceteio” em casa – um prato preparado com lingüiça, alho e cebola fritos, arroz, feijão, com outras sobras em uma frigideira. O mesmo que “mexido”.

A criatura essa casmurra que tentei descrever acima, se levantou de onde estava, abriu o porta-bíblia e colocou na mão desta pessoa um convite de sua igreja. Para um culto, pois diante de tudo o que havia assistido e mais o rebuceteio final, ele achou profeticamente necessário encaminhá-la para a salvação. Pobre irmã desgarrada!

Minha amiga nobremente agradeceu, e sugeriu que a dita igreja no centro da Capital deveria fazer um rebuceteio coletivo entre pastores, crentes, empresários e distribuir nas imediações, pois seria uma boa iniciativa. E saiu sorrindo!

O paulínio ser não dramatizou o conceito, escutou, representou de forma equivocada, julgou e condenou, ignorava a aplicação da palavra, da idéia, impôs sua moral do “bom” sobre o “mau”. Forma viciada que ainda triunfa infelizmente em nossa realidade cotidiana. Onde a representação pensa dominar de maneira clara e distinta toda a realidade. Esquecendo-se, porém, dos dinamismos mutantes que operam no obscuro de cada conceito, revelando suas forças e dramática leveza.

agosto 04, 2010

Repente


"Não me encontro onde procuro, mas de repente, quando menos espero".


(Michel de Montaigne)

agosto 02, 2010

Maria Madalena ou Noiva Perdida da psique humana


"A perda do feminino teve um impacto desastroso em nossa cultura. Masculino e feminino estão profundamente feridos neste início do terceiro milênio. As dádivas do feminino não foram aceitas ou apreciadas por completo. Enquanto isso, o masculino, frustado pela incapacidade de harmonizar suas energias com um feminino bem desenvolvido, continua a liderar o mundo empunhando a espada, brandindo armas irresponsavelmente, atacando com violência e destruição.

No mundo antigo, o equilibrio entre as energias opostas era compreendido e respeitado. Mas, no mundo moderno, as atitudes e os atributos masculinos têm dominado. A adoração do poder e da glória do principio/solar está a poucos passos da "adoração do filho", um culto que, com freqüência, produz um homem mimado e imaturo - zangado, frustrado, entediado e, muitas vezes perigoso. O resultado final do princípio feminino desvalorizado não é apenas a poluição ambiental, o hedonismo ou a criminalidade desenfreada. O resultado fundamental é o holocausto".

( Margaret Starbird - Maria Madalena e o Santo Graal - A mulher do vaso de alabastro)