outubro 19, 2010

Sublinhados de grafite


"toda vida é uma missão secreta".

"só posso alcançar a despersonalidade da mudez se eu antes tiver construído toda uma voz".

"Só então minha natureza é aceita, aceita com seu suplício espantado, onde a dor não é alguma coisa que nos acontece, mas o que somos. E é aceita a nossa condição como a única possível, já que ela é o que existe, e não outra. E já que vivê-la é a nossa paixão. A condição humana é a paixão de Cristo".

(Clarice Lispector - A paixão segundo G.H.)

Do imbecil diário


Em volta da mesa para uma reunião formal, basta ceder mais espaço-tempo para que caia o véu do encobrimento. O ar pesa, poeira ganha densidade entre papéis farelados de torpes manuseios. A "santa" surge, "reta", "pura", kantiana em seus universais legais. Forma tentacular que com dedos ágeis puxam brasas para seu assado.

Retórica mínima, ultrapassada pelo imbecil diário de uma vidinha sem graça. Dejetos pululam entre "pensares" categóricos que buscam um fim proveitoso. Uma pequena arquitetura pobre de um jogo de damas: "preciso comer tuas pedras!!". "Se possível fico com o tabuleiro"...

Papiza de venerações próprias e um mínimo clero, dada a pequenos desatinos quando não pode conter sua maldade. Espuma pelos cantos da boca, bílis fabricada em um corpo deformado pela falta de paixão.

Dores dilaceram este espírito que se trai na vagância dos dias. Mais uma ilusão de vitória recheada de sacanagem, do que não se ousa dizer nem admitir. Ações escondidas, veladas, pintadas com horríveis tintas deformantes de um rosto que aparece mas não é seu. E acredita piamante que a vida seja essa mixórdia que construiu para si, onde o coro sem olhos deve dizer amém!

outubro 06, 2010

Teresa Filósofa



Para servir à história do Padre Dirrag e da Senhorita Eradice
"Porque temer escrever verdades úteis ao bem da sociedade? Pois bem, meu caro benfeitor! Não vou mais resisitir! Escrevamos! Minha ingenuidade, para as pessoas que pensam, passará por um estílo depurado, e pouco temo os tolos. Não, vossa terna Teresa jamais vos responderá por uma recusa, vereis todos os recôndidos do seu coração desde a mais tenra infância, a sua alma vai se revelar inteiramente nos detalhes das pequenas aventuras que, sem que percebesse, a conduziram, passo a passo, ao auge da volúpia".

(Teresa Filósofa - Anônimo do Século XVIII)