junho 17, 2009

Leituras sempre!


A LAMA E O OURO

Há uma dualidade em Baudelaire. De um lado, a recusa violenta do mundo moderno banalizador, corruptor do espírito – de lá vem seu horror pela fotografia, vista por ele apenas como um modo mecânico de reproduzir a imagem do mundo. Mas por outro lado, existe a idéia de que o artista moderno está ancorado no presente e não pode escapar dele. O artista possui, no entanto o poder de recriar, a partir desse dado primeiro, uma espécie de sobre-realidade. Para empregar os termos de Baudelaire: uma realidade espiritualizada, uma contemporaneidade heróica.
Essa visão sobre a gênese da criação artística se encontra admiravelmente evocada num
poema incompleto, o esboço de um epílogo para a segunda edição das Flores do Mal. Eis aqui a segunda parte desse Epílogo, relativamente mal conhecido:


Tranqüilo como um sábio e suave como um maldito,...
eu disse:
Eu te amo, oh! minha muito bela, oh! minha encantadora...
Quantas vezes...
Tuas devassidões sem sede e teus amores sem alma,
Teu gosto do infinito
Que em todos os lugares, no próprio mal, se proclama.
Tuas bombas, teus punhais, tuas vitórias, tuas festas,
Teus arrabaldes melancólicos,
Tuas casas de cômodos,
Teus jardins cheios de suspiros e de intrigas,
Teus templos vomitando a prece musicada,
Teus desesperos de criança, teus brinquedos de velha louca,
Teus desânimos;
E teus fogos de artifício, erupções de alegria,
Que fazem o céu rir, mudo e tenebroso,
Teu vício venerável exposto sobre a seda,
E tua risível virtude, com olhar infeliz,
Doce, se extasiando diante do luxo por ele desdobrado...
Teus princípios salvos e tuas leis conspurcadas,
Teus momentos altivos onde as brumas se agarram,
Tuas cúpulas de metal que o sol incendeia,
Tuas rainhas de teatro com vozes sedutoras,
Teus sinos que tocam o alarme, teus canhões, orquestra ensurdecedora,
Teus calçamentos mágicos que se erguem qual fortalezas,
Teus oradorezinhos, com empolações barrocas,
Pregando o amor, e depois, teus esgotos cheios de sangue,
Se engolfando no Inferno como Orenocos,
Teus anjos, teus bufões novos com velhos andrajos,
Anjos vestidos de ouro, de púrpura e de jacinto.
Oh! vós, sede testemunhas de que cumpri meu dever
Como químico perfeito e como um alma santa.
Pois de cada coisa extraí a quintessência,
Tu me deste a tua alma e eu a transformei em ouro.


(Do livro O Olhar de Adauto Novaes – Pág.234)

junho 11, 2009

Corrida Maluca



Corres para onde “ meu amor”?
Se nem diabo verde desentope tuas entranhas tradicionais e preconceituosas!!!

junho 09, 2009

Sina




Sou minha própria droga
Agulhas cravam
Dose exata
Carne dilacerada da vida
Líquido viscoso
Seringa repleta de vazios
Viagens viscerais
Veia pulsa lenta
Descompassada
Saturada
De novas tintas

Aberrações psicodélicas
Recomposições de velhos acordes mentais
Vestido de inspirações
Fazem brotar flores
No pavimentado coração alheio

Sina, sina, sina
Traficante de ilusões
Promessas de analgesias
Utopias em papelotes extraviados
Giram por entre caminhos

junho 04, 2009

Água



Apesar das dificuldades impostas pela vida. Sempre há em minha alma um copo de água para uma boca sedenta.

junho 03, 2009

Vi-dá

Gelo, gela, queima
Pensa, idéia, casa
Beba, sacie, flane
Viva, deriva, zangue

Fúria, pulsa, vaia
Cômodo, besta, pária
Torpe, ralo, vão
Ida, vida, perseguição

Pito, vida, cão
Ladra, berra, fica
Livre, breca, corre
Alarga, agarra, dá