junho 24, 2012

Espíritos!!


"Minha compreensão da significação de um livro é que o livro propriamente dito desaparece da vista, é mastigado vivo e incorporado ao organismo como carne e sangue que por sua vez criam novo espírito e remodelam o mundo". (Henry Miller - Trópico de Capricórnio)  

Seminário Público


"S"



"Há magia em todas as circunstâncias em que as coisas criam espírito"

Paul Valéry - Alfabeto

maio 10, 2012

abril 11, 2012

Caça-imagens



I do Alfabeto de Valéry – Caça-imagens
Inspiro um odor de frutas e de molho quente (Imagem-Afecção). Há no ar alguma alegria ingênua (Imagem-Pulsão). A porta que se entreabre admite um vapor de carne cozida e cede diante de uma mulher em rosa e preto que carrega o Prato. O aroma soberano invade as almas presentes. O milagre da água se cumpre em todas as bocas. Os rostos brilham; as vozes soam ao máximo. Um esfrega as mão diante de seu prato puro. O outro não tira os olhos desse bem fumegante que chega. O alimento, arranjado e preparado para desaparecer, circula, inclina-se e vai se oferecer de corpo em corpo. Logo os onipotentes espíritos da desejável matéria sobem a cabeça dos homens. A política e a literatura cintilam entre os ruídos das bocas e dos cristais. As línguas se desdobram; uma vida, uma bondade, uma malícia superabundante exalta-se nos convivas, une-os e se consome em palavras, em goles e bocados. (Imagem- Ação)
O grande e belo cão, que está sentado entre duas pessoas, faz pensar em uma estátua da Espera. Seria um deus egípcio de basalto, se a cola não batesse no ladrilho (Imagem-Percepção). Nada está mais pronto do que o gesto nítido desse animal simples, do que a bocada dessa imobilidade carrega de desejo, quando se lhe estendem os restos, osso ou cartilagem, que o homem não consegue querer (Imagem-Mental). Esse focinho, magneticamente ligado pelos olhos ardentes ao único objeto desta vida animal, é uma máquina infalível de arrebatar e de fazer desaparecer todo o refugo da mesa humana. (Imagem-Percepçâo)
Mas nossa boca, enfim, cansa-se de sabores: o morango, o café, o tabaco, em sucessão, esgotaram as suas potências, e a plenitude nos oprime, reduzidos a nos sorrir através de nossas nuvens de fumo. (Imagem-Ação-Afecção-Pulsão)

Referência
VALÉRY, Paul. Alfabeto. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. (Trad. Tomaz Tadeu)

fevereiro 23, 2012

Tardes de Borges


A veces en las tardes
una cara
Nos mira desde el
fondo de un espejo;
El arte debe ser
como ese espejo
Que nos revela
nuestra propia cara

(Estrofe do poema "Arte Poética", de Jorge Luis Borges)

fevereiro 22, 2012

Ato único


1
anjos dormem
assimétricos
no palco
2
ressonam esquecida-
mente
embalam a ressaca
de vez em quando
soltam suspiros entre os
bigodes
3
halos abandonados
nos cordéis
batem
levíssimos
4
legendária mas fiel
dorme a platéia
em seu navio
5
é quando um
anjo instável nas
asas
sobe ao mastro
e esquece
as lições de vôo

(Ana Cristina Cesar - 1952-1983)

fevereiro 06, 2012

Roth



"Muitas vezes, "gostar das pessoas" não passa de mais uma espécie de atividade fraudulenta".

"Não é fácil viver naquela egosfera".

(Diário de uma Ilusão - The Ghost Writer - Philip Roth)

janeiro 16, 2012

+ Virginia Woolf


"Vinha até ali regularmente, todas as noites, arrastados por alguma necessidade. Era como se a água fluísse e fizesse com que os pensamentos estagnados em terra firme deslizassem por ela e dessem até mesmo a seus corpos uma espécie de alívio físico. Primeiro o movimento da cor inundava a baía azul e o coração expandia-se com ele e o corpo nadava, para somente no instante seguinte ser reprimido e regelado pela cortante escuridão das ondas inquietas. Então, bem atrás da grande rocha negra, quase toda noite jorrava irregularmente uma fonte de água branca, de modo que se tinha que aguardá-la e era um deleite quando a água brotava; enquanto se esperava por ela, via-se, na pálida praia em semicírculo, onda após onda derramar continuamente uma névoa suave em tons de madrepérola". (Rumo ao Farol - 1927)

janeiro 12, 2012

Mrs Dalloway




Resenha - Sinopse

No momento em que entra em domínio público a obra de Virginia Woolf (1882-1941), a Autêntica Editora orgulha-se em oferecer ao público brasileiro uma nova tradução de um de seus mais importantes romances, Mrs Dalloway, apresentada numa edição muito especial.

Para começar, a Mrs Dalloway da Autêntica vem em dose dupla: dois volumes acondicionados num belíssimo estojo em cartolina rígida. Um dos volumes é o romance propriamente dito. O outro é uma espécie de livro de anotações ou de apontamentos a que demos o título O diário de Mrs Dalloway. Com desenhos de Mayra Martins Redin e frases selecionadas de Virginia Woolf sobre a leitura e a escrita, entre outros temas, o volume funciona como uma agenda muito especial, com quatro tipos de páginas para anotações: pautadas, quadriculadas, divididas em quadrantes e inteiramente brancas.

Os volumes são apresentados em capas de tecido, com letras em baixo relevo branco. Nas folhas de guarda, um mapa estilizado de Londres em aquarela, com o itinerário de Mrs Dalloway num dia do verão de 1923. Um verdadeiro objeto de desejo, como tendem a ser os livros impressos nesta era de competição com o livro digital. Bom para ver e para tocar. E também para ler!

A tradução, de Tomaz Tadeu, é enriquecida com textos do próprio tradutor sobre a vida de Virginia Woolf e sobre a estética de sua ficção, além de abundantes notas e de um índice onomástico com informações sobre todos os nomes próprios (ruas, monumentos, personalidades) que aparecem no romance.

Mrs Dalloway, primeiramente publicado em 1925, é o primeiro e bem-sucedido resultado do continuado esforço de Virginia para romper com as convenções do romance tradicional e estabelecer as bases de uma nova estética da ficção, um esforço que apenas parcialmente fora recompensado com o romance anterior, O quarto de Jacob (1922), e se consolidaria no seguinte, Ao farol (1927). Numa perspectiva mais ampla, Mrs Dalloway insere-se no movimento que, retrospectivamente, seria caracterizado como modernismo literário e cujo início pode ser situado na primeira década do século XX. Na Grã-Bretanha, além de Virginia, destacam-se os nomes de James Joyce, na ficção, e T. S. Eliot, na poesia.

É simples a trama de Mrs Dalloway. Tudo se passa num dia de junho de 1923, entre as 10 horas da manhã e a meia-noite. Na face visível da realidade, a dos atos banais do dia a dia, Clarissa Dalloway sai para comprar flores para a festa que dará à noite. No caminho passa por algumas das ruas centrais de Londres e por dois de seus principais parques, encontrando o amigo Hugh Whitbread. Seu trajeto cruza com o de outro personagem central, Septimus Warren Smith, que, acometido de um sério trauma de guerra, encaminha-se, com a esposa que conheceu na Itália, Rezia, para uma consulta com um importante psiquiatra.

Já em casa, a Sra. Dalloway recebe a visita de um antigo namorado, Peter Walsh, que acabara de voltar de uma longa temporada de trabalho na Índia. Deixando a casa de Clarissa, Peter Walsh empreende a própria caminhada por Londres, regressando, depois, ao seu hotel, de onde sai, ao final da tarde, para a festa da antiga namorada. O romance culmina na festa da Sra. Dalloway, onde se encontram pessoas de suas atuais relações, como o próprio Primeiro-Ministro, e pessoas de seu passado: além de Peter Walsh, também Sally Seton, uma paixão da adolescência.

Um mosaico de cenas exteriores recheia a trama aparente do romance: a passagem de um misterioso automóvel carregando uma importante personagem política; as proezas de um avião escrevente; uma rusga entre a filha adolescente da Sra. Dalloway, Elizabeth, e sua preceptora, a Srta. Kilman; a aventurosa perseguição feita por Peter Walsh a uma senhorita que ele destacara da multidão; uma mendiga, próximo à estação de metrô do Regent’s Park, entoando uma canção ancestral; o trágico fim de Septimus.

A estrutura da narrativa tampouco é complicada. No esforço para evitar a linearidade típica da prosa e da narrativa tradicional, Virginia Woolf dividiu o romance não em capítulos, mas em cenas, onde se sobrepõem, se cruzam e se confundem, numa simultaneidade vertiginosa, episódios do presente e do passado; acontecimentos atuais e rememorações; atos, visões e pensamentos; fantasia e realidade; vida e sonho; realidade e alucinação. É nesse painel cuidadosamente montado, composto por doze seções, assinaladas, na edição original, apenas por duas linhas em branco, que Virginia empreende uma exploração que, na superfície, cobre o mapa da área central de Londres, mas, muito mais profundamente, percorre o mapa interior e sentimental de personagens como Clarissa Dalloway, Peter Walsh, Septimus Warren Smith…

janeiro 09, 2012

Um outro mundo II - M.C. Escher


Vento desértico campeia
Cronos já, janeiro
matemáticas do tempo
lua nova pós solstício
pele, espírito sedento
duas faces de Jano
Deus de outros começos
visões distorcidas
dimensões
um outro mundo