junho 26, 2010

Espiritografia a la Miró


Viver de espiar, espreitar ciclos de intensidades, o adoecimento que resiste à febre, o bater de queixos que se confunde com um riso louco. Vida por vezes famélica, alimentada insana pelos vestígios do dia, por traços letárgicos do que um corpo quer dizer. Fazendo germinar do mais íntimo, brotos que arrastam dedos e mãos, riscos deslizantes que o espírito impõe numa constelação, derramando figuras na superfície disponível de agora, entre gélidas madrugadas.


Há um calor de inconformismo, um ar de liberdade, sonho, vida sem freios, como um cão latindo para a lua. Um impulso, uma força que faz inverter figuras, girar entre carnavais, uma réstia de filosofia, pensamentos, ação, entorpecimento, criação suspensa de qualquer controle.


Não há exatidão, mas um gerar impreciso dos cabeludos pincéis molhados, misturado numa vertigem de cores, gestação de uma obra fecundada, inominada até nascer. Signos que acontecem, pássaros, mulheres, asno, um auto-retrato, o que ri e chora. Vinga, transborda, contrai, transforma-se e pede mais para vir-a-ser arte.


Um espírito que transfigura o mundo com linhas, traços interpenetráveis de lonjuras e desespero do que percebe diante dos olhos. Danação entre duas guerras e uma força regente, nebulosas de gestos, do que deseja resistir, encharcado, aquarelas espontâneas surgem do fundo claro, onde tudo escorre. Cabeleira de seda branca, enorme cabeça, silhueta de fera cavalga uma lágrima em forma de alazão, espargindo orvalho, uma arquitetura de sonhos despejados em estranhas geometrias na noite sem luar.


O desacreditado observa seus velhos sapatos constelados por galáxias, tintas, pingos estelares do que saltou em cores de um absurdo infinito universo, onde calça seus pés. Suas patas e corpo deitado numa enseada, onde mãos tateiam uma vez mais a viscosa tinta. Mas levantam fazendo surgir pintalgada litografia de um espírito comediante, que embora sangre, traça, vivifica em telas, esculturas, amores e dores. Inquieto compositor de experimentações variantes, o solitário que em sua quietude “anti-social” deixou seu berro para que assim ocorra uma nova aurora pulsante, um mosaico que clame El despertar Del dia e acorde o mundo.


Escritura apresentada:

No Seminário Avançado: O método de dramatização na comédia do intelecto: Valéry & Deleuze (Professora: Sandra Mara Corazza)

Vidas do Fora


Ainda estou impregnada de vocês, de vida, excesso de pensamentos. Os livros entre as mãos num devorar de escrituras. A chuva que cai, seus pingos tilintantes fazem passar imagens entre suspiros, um mosaico de gritos, silêncios. Sem escafandro me lanço!

"O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria" (William Blake)

Aos que me tocaram mesmo sem saber, meu abraço e meu carinho.

junho 09, 2010

Borges


Uma oração

Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.


(Jorge Luis Borges)

junho 07, 2010

Gozo


"O prazer do texto é semelhante a esse instante insustentável, impossível, puramente romanesco, que o libertino degusta ao termo de uma maquinação ousada, mandando cortar a corda que o suspende, no momento em que goza".


( Roland Barthes - O prazer do texto)

junho 05, 2010

Movimento


Neste momento ondas batem em algum lugar...

Erdmuthe Krause


Em Ecce Homo - Como Alguém se Torna o que é de Friedrich Nietzsche... Porque sou tão sábio 3 encontramos:

"Mas minha mãe, Franziska Oehler, é de qualquer modo bastante alemã; assim também minha avó paterna, Erdmuthe Krause. Essa última passou toda a sua juventude na velha e boa Weimer, não sem relação com o círculo de Goethe. Seu irmão, o catedrático de teologia Krause, de Königsberg" (...)


Resolvi procurar a criatura, queria uma foto, uma imagem, para verificar alguma sincronicidade com Krause. Então!!!

junho 01, 2010

Cravo!


Cravo dentes, repentes, farelos nutrientes...