fevereiro 24, 2010

4 x Cora



Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando pra o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço...
Ogum. Orixá. Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo...

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho,
Seu cheiro gostoso d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos.
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

(Todas as vidas - Cora Coralina)

L.


Como unha de gato novo contorna muros, penetra frestas. Silêncio verdeja paredes. Folhas espalhadas que adentram vidraças. Janelas de poder, desenhos esquizofrênicos de Falsa Hera, visões sobre vidraças. Se espreguiça Ficus Pumila L. na plena luz do sol. Na noite sobre o orvalho vaga uma criatura que expande seus domínios orquestrando revoluções para novos agarramentos.

fevereiro 22, 2010

Escrituras


“Em busca do romance perdido”

Vida essa de ilusão tardia, brinquedos quebrados que arrasto aos prantos. Saudade de meu riso gostoso, quando me banhava nua no riacho entre montanhas. Lá era livre, lá era só eu, tomada pelo verde a cantarolar lá-lá-lás.
Isso não quero esquecer, pois momentos de êxtase só podem ser arrancados com lobotomia. Não quero que furem minha cabeça, deixem que meus ruídos indefinidos barulhem em minhas entranhas perversa-mente.

fevereiro 18, 2010

Nua


"Jogada inteiramente nua aos pés de Deus! Rolando pelos campos de asfódelo como pedaços de papel pardo largados na agência postal! O cabelo esvoaçando como o rabo de um cavalo de corrida. Sim, isso parece exprimir a rapidez da vida, o desperdício e a restauração perpétuos; tudo tão casual, tão fortuito"...
(Virginia Woolf - Objetos Sólidos)

fevereiro 08, 2010

olhar


Há percepções que a própria percepção pode deixar escapar, mas quando captamos é mágica fantasia...

All stars vermelho


O quanto já andei...

O que ainda falta caminhar?

fevereiro 05, 2010

Renitente capim


Pois que correm num tropel "mulas" desvairadas sobre minha cabeça, arrancam minhas mudas no jardim. Cinicamante me "tratam" como se os horrores não fossem cometidos. Vidas vazias de mortes veladas. Cheiro exalante de velhos candeeiros de lembranças. Em suas mãos nos cantos da unhas vejo o laranja das pétalas esmagadas de minhas flores roubadas nas escuras madrugadas. Feito capim renitente vicejo com todas as mandingas em contrário. Eu a largada e liberta de rebeldia e resistência. Imponho inveja entre correntes carcomidas por lágrimas crocodilantes, ondem correm desvairados fazendo círculos sem fim, sobre uma vidinha escabrosa repleta de acordes dissonantes. Corram, corram, meus pés são alados, alados cascos que pisam indeléveis nos brotos de algodão feito nuvens carregadas das melhores chuvas outonais. Putrefados estão, o odor vem com os ventos. Ares de Iansã que me carregam na direção contrária longe das blasfemias, das mentiras caluniantes e dos vermes rastejantes. Magnífica sensação!!!

fevereiro 01, 2010

Senhora dos navegantes...




Entre azuis


Roga por nós


navegadores planetários