setembro 24, 2009

Um dia para fumar lentamente


Incomputáveis anos de Oromasis. Salamandras dão o tom, graus, elevação. Silenciei do silêncio que precisava. Tarde quente, propícia a estas experiências escaldantes. Poucos se movem, poucos gritam, poucos agem... ninguém chega, ninguém sai.

Fiquei ali, assim, eira e beira, quieta, feito samambaia sem mover folha. Um torpor, lassidão, esperando silenciosa, nada de rumos, não-movimento, estática, xerofiliando.
Hoje as lagartixas sairão somente horas após o sol se pôr, tal a lentidão do tempo. Baratas folgam lambendo perninhas nos buracos mais escuros, frescos, úmidos, sacanas... esperam que a noite chegue.

Pássaros mudos, cães sem lábios mucosos, atirados na sombra do muro, meio metro de língua sem baba. Felinos sábios estirados no canto mais fresco da casa, patas para o alto, refrigério e sonecas.

Traças não saem do casulo, secam... Meu pé no chão, inchado, dilatação das veias, velhos canos do sangue, leitoso... Ventilador paralítico das hélices, esforço de brisas, elementais, forçosos ares.

Folga! Férias de inspiração, que farão mover uma nova aurora, após a festa da carne... Que tragam nuances boreais.

Salamandras em ação, azuis relâmpagos no que precisa ser queimado, consumido. Um dia para fumar lentamente. Algo gelado passando para o esôfago fervilhante, sensação refrescante...

Autofagia na “n”, peixe no forno 250 graus, as moscas nem se atrevem, torram nos vôos... A geladeira velha ronca, rubra, enfileirei cervejas em seu ventre refrigerado, três horas para gelar, hora e meia para sorver... Aí vagam idéias, observando o termômetro que marca 40 graus.

Engraçado o que sua é o copo, estou seca, livre da molhaçada, estranho! Será a nicotina? Esse ar desértico? Essa coisa insana?

Nada além da pás-hélices-ar-movimento-lento, respiração forçada, nariz entupido, reentrâncias sem água... Sensação de chumaços de algodão postos nas fossas nasais. Estarei morta? Ou sou a morta-viva espreitando a desgraça dos dias em que torradas humanas são servidas?

As crianças que brincavam na piscina ao lado sumiram! Nada de gritaria, a água deve ter fervido, ensopado infanticida... Boca ressecada, mais um cigarro, mais um gole gelado... badernas nas entranhas, incineração.

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