janeiro 06, 2010

Saltos de Miller


"Às vezes, nas incessantes revoluções da roda, tenho um vislumbre da natureza do salto que é necessário dar. Saltar para longe do mecanismo de relojoaria - essa era a ideia libertadora. Ser algo mais, algo diferente, que o mais brilhante maníaco da terra! A história do homem sobre a terra aborrecia-me. A conquista, até mesmo a conquista do mal, aborrecia-me. Irradiar bondade é maravilhoso, porque é tônico, revigorante, vitalizante. Mas apenas ser é ainda mais maravilhoso, porque é interminável e não exige demonstração. Ser é música, que é uma profanção do silêncio no interesse do silêncio, e portanto além do bem e do mal. Música é a manifestação de ação sem atividade. É o ato puro da criação nadando em seu próprio seio. Música não estimula nem defende, não procura nem explica. Música é o som silencioso feito pelo nadador no oceano da consciência. É uma recompensa que só pode ser dada por si próprio. É o dom do deus que alguém é porque deixou de pensar em Deus. É um augúrio do deus que todos serão no devido tempo, quando tudo quanto é será além da imaginação".
(Henry Miller - Trópico de capricórnio)

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