novembro 23, 2009

Um poema de Poe






Não fui, na infância, como os outros

e nunca vi como outros viam.

Minhas paixões eu não podia

tirar de fonte igual à deles;

e era outra a origem da tristeza,

e era outro o canto, que acordava

o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.

Assim, na minha infância, na alba

da tormentosa vida, ergueu-se,

no bem, no mal, de cada abismo,

a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,

da rubra escarpa da montanha,

do sol, que todo me envolvia

em outonais clarões dourados;

e dos relâmpagos vermelhos

que o céu inteiro incendiavam;

e do trovão, da tempestade,

daquela nuvem que se alterava,

só, no amplo azul do céu puríssimo,

como um demônio, ante meus olhos.

(Allan Poe)

Um comentário:

  1. "O amplo azul do céu puríssimo..."
    Lindo, Poe sempre me aterrorizou com seus corvos e gatos emparedados, hoje me rendo a um poeta!
    Obrigado pela oportunidade de conhecer outra face de um escritor...
    Obrigado pelo carinho Maestrina.

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